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Merry Crisis and a Happy New Fear: uma coleção de imagens

É preciso saudar o porvir com a potência perturbadora de um jogo de linguagem: “Merry Crisis and Happy New Fear”.

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O que este jogo de palavras a um tempo irônico e sombrio tem a nos ensinar sobre o estado de crise em que vivemos?

O Natal e o Ano Novo se aproximam, mas o horizonte do que se avizinha parece não trazer muitas novidades. Quando as tentativas de entrever o futuro revelam apenas várias modalidades da crise, é preciso saudar o porvir com a potência perturbadora de um jogo de linguagem: “Merry Crisis and Happy New Fear”.

A crise é um tema recorrente nas tentativas de compreender o mundo em que vivemos. No discurso dos poderosos, falar em “crise” é, frequentemente, uma justificativa para a manutenção ou para o aprofundamento de desigualdades que os privilegiam. No discurso do jornalismo, “crise” é a palavra-chave que define um número cada vez maior de pautas: a destruição do meio ambiente, os problemas da vida urbana, a economia globalizada etc. Não há nada fora da crise, e é preciso governá-la, dizem.

A forma como experimentamos a crise não é homogênea. Enquanto os discursos sobre a crise procuram conter seus sentidos numa representação mais ou menos precisa de seu alcance espaço-temporal e de seus efeitos sócio-históricos, os 99% atravessam a crise como experiência cotidiana, comum, trivial, efetivamente ingovernável, e deslocam os discursos dominantes sobre a crise por meio de uma série de procedimentos de protesto contra a forma como a crise é governada.

Quando a capa da revista Vavel, em seu especial de Natal de 2007, mostrou a fotografia abaixo, de autoria desconhecida, a frase ali registrada talvez não tivesse alcançado, ainda, a disseminação atual.

Depois disso, “Merry Crisis and Happy New Fear” tornou-se uma espécie de slogan das manifestações que tomaram as ruas da Grécia em 2008, além de tornar-se objeto de apropriação por parte dos movimentos de ocupação em diversas cidades ocidentais, que comentaram a frase em seus blogs, a reproduziram e a difundiram, também em suas manifestações.

Lembrar das palavras “Merry Crisis and Happy New Fear” e, sobretudo, das inúmeras imagens em que elas se fizeram visíveis é uma ocasião para recordar que a crise permanece sendo a experiência comum dos 99%, em meio às oscilações da economia global, às transformações das paisagens urbanas, à consolidação da consciência ambiental como consciência privilegiada da destruição.

Diante da proximidade do Natal e da passagem de ano, sob os ecos dos protestos que tomaram as ruas das principais cidades brasileiras em junho de 2013, em meio às iniciativas cada vez mais explícitas de institucionalizar o genocídio indígena no Brasil (apesar das importantes tentativas de resistência), o jogo de linguagem dessas palavras permanece contundente. De fato, o mundo em que vivemos ainda está invertido.