Projeto de pesquisa coordenado por Marcelo R. S. Ribeiro e desenvolvido entre 2017 e 2019 na Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia.
Resumo
Por meio de uma abordagem interdisciplinar das relações entre imagem e direitos humanos, este projeto visa ao estudo dos modos como o cinema e outros meios visuais, como a pintura e a fotografia, e audiovisuais, como a televisão e o vídeo, participam de um processo histórico e cultural mais amplo de construção da “consciência da humanidade”, que declara os direitos humanos, conforme o preâmbulo da Declaração Universal de 1948, contra os “atos bárbaros” que proliferam na história recente da humanidade. Pretende-se, em primeiro lugar, estabelecer uma perspectiva histórica de estudo das formas de representação e de abordagem de diferentes genocídios e crimes contra a humanidade no cinema e em outros meios e caracterizar as singularidades de diversos momentos e contextos de violação generalizada de direitos humanos e as modalidades de uso da imagem que acompanham, testemunham e transformam os sentidos desses momentos e contextos, constituindo a memória das violações. Espera-se, igualmente, tornar possível a identificação de tendências recorrentes de associação entre imagem e direitos humanos, assim como interrogar as noções de dignidade pressupostas por toda reivindicação de direitos universais e projetadas por qualquer forma de associação entre imagem e direitos humanos. Dessa forma, o problema que este projeto de pesquisa pretende investigar pode ser resumido com a seguinte pergunta: como o cinema e outros meios visuais e audiovisuais participam da construção da “consciência da humanidade”, por meio da elaboração de memórias de genocídios, crimes contra a humanidade e outras violações, de um lado, e de ideias e projeções de dignidade, do outro, durante a segunda metade do século XX e o início do século XXI?
Equipe
- Marcelo Rodrigues Souza Ribeiro – Coordenador
- Mateus de Jesus Viana – Integrante (graduação)
- George Diniz Teixeira – Integrante (graduação)
- Bianca Beatriz Menezes Lima – Integrante (graduação)
- Marina Lordelo Carneiro – Integrante (graduação)
- Roberta Catherine Mutti de Castro – Integrante (graduação)
- Jeferson Alan dos Santos Ferreira – Integrante (graduação)
- Christina Neves Mariani – Integrante (graduação)
- Alexandra Helena Batista da Silva – Integrante (graduação)
- Rogério Wesley Reis Felix Santos – Integrante (graduação)
- Monique Silva Feitosa Alves dos Santos – Integrante (graduação)
Projetos relacionados
Imagem e direitos humanos: consciência da humanidade, memórias de violações e projeções de dignidade no cinema e no audiovisual – O cinema de Jia Zhangke (Graduação – PIBIC UFBA 2018-2019)
Por meio de uma abordagem interdisciplinar das relações entre imagem e direitos humanos, este projeto visa ao estudo dos modos como o cinema e outros meios visuais, como a pintura e a fotografia, e audiovisuais, como a televisão e o vídeo, participam de um processo histórico e cultural mais amplo de construção da “consciência da humanidade”, que declara os direitos humanos, conforme o preâmbulo da Declaração Universal de 1948, contra os “atos bárbaros” que proliferam na história recente da humanidade. Pretendese, em primeiro lugar, estabelecer uma perspectiva histórica de estudo das formas de representação e de abordagem de diferentes genocídios e crimes contra a humanidade no cinema e em outros meios e caracterizar as singularidades de diversos momentos e contextos de violação generalizada de direitos humanos e as modalidades de uso da imagem que acompanham, testemunham e transformam os sentidos desses momentos e contextos, constituindo a memória das violações. Esperase, igualmente, tornar possível a identificação de tendências recorrentes de associação entre imagem e direitos humanos, assim como interrogar as noções de dignidade pressupostas por toda reivindicação de direitos universais e projetadas por qualquer forma de associação entre imagem e direitos humanos. Dessa forma, o problema que este projeto de pesquisa pretende investigar pode ser resumido com a seguinte pergunta: como o cinema e outros meios visuais e audiovisuais participam da construção da “consciência da humanidade”, por meio da elaboração de memórias de genocídios, crimes contra a humanidade e outras violações, de um lado, e de ideias e projeções de dignidade, do outro, durante a segunda metade do século XX e o início do século XXI?
Plano de trabalho 1 – Estudo analítico das imagens da dignidade no cinema de Jia Zhangke: cinema e direitos humanos na China globalizada
Desenvolvido por Mateus de Jesus Viana entre agosto de 2018 e julho de 2019, com bolsa da FAPESB.
Na obra cinematográfica de Jia Zhangke (nascido em 1970, em Fenyang, na província de Shanxi, República Popular da China), é possível observar uma atenção ao cotidiano e às vidas de pessoas comuns, em cujas trajetórias se inscrevem uma série de problemas de direitos humanos, sejam eles relativos ao regime político dominante no contexto chinês, sejam eles relativos à integração da China nos circuitos do capitalismo globalizado. Se seus filmes não têm como propósito primordial a mobilização do cinema para apresentar denúncias de violações de direitos humanos, cujas evidências suas imagens eventualmente registram ou reconstituem, cada um deles contribui, de alguma forma, para um trabalho de memória em torno do que o crítico JeanMichel Frodon (2014, p. 38) descreve como ?o maior evento planetário do início do século XXI: a ascensão da China à categoria de potência, com transformações geopolíticas, econômicas, sociais, tecnológicas, ambientais de uma extensão sem equivalente?. Entre a urgência da denúncia e a emergência da memória, é preciso interrogar como o cinema de Jia Zhangke registra e reconstitui, abriga e projeta, em suas imagens, a dignidade das pessoas que representa, das quais se aproxima e nas quais está interessado. O cinema de Jia Zhangke oferece, ao mesmo tempo, imagens de violações que marcam a experiência histórica da China na era da globalização e imagens da dignidade das pessoas comuns que compõem a paisagem humana desse processo em andamento, articulando as duas dimensões fundamentais das relações entre cinema e direitos humanos: de um lado, o registro das violações, em denúncias urgentes e no trabalho de memória que não cessa de emergir; de outro, as projeções de dignidade, inscrevendo os princípios universais que definem a vida digna jurídico politicamente num devirsensível, sob a forma de imagens.
Plano de trabalho 2 – Elaboração de filmografia e de bibliografia comentadas sobre o cinema de Jia Zhangke
Desenvolvido por George Diniz Teixeira entre agosto de 2018 e julho de 2019, com bolsa da quota institucional do PIBIC-UFBA.
O estudo do cinema de Jia Zhangke tem se consolidado como um contexto privilegiado para a compreensão dos desenvolvimentos recentes dos cinemas asiáticos, de modo geral, e do cinema chinês, em particular, assim como para a investigação dos modos de imaginar e de narrar as transformações históricas associadas à globalização, na China e no mundo a que suas paisagens estão cada vez mais profundamente vinculadas. Este Plano de Trabalho pretende contribuir para o estudo do cinema de Zhangke no Brasil, considerando o problema das relações entre cinema e direitos humanos, bem como a temática da dignidade. Por meio de pesquisa filmográfica, pretendese contribuir para futuras pesquisas dedicadas à obra do cineasta, assinalando suas realizações numa cronologia e permitindo a identificação inicial de seus temas e procedimentos básicos, por meio de descrições sucintas. A elaboração de uma filmografia comentada conduzirá à publicação de uma lista de filmes, acompanhada da compilação de informações técnicas a respeito de cada título, assim como de comentários curtos sobre cada obra individual, buscando descrever, em linhas gerais, seus temas e procedimentos. Por meio de pesquisa bibliográfica, a abordagem aqui proposta visa ao levantamento e à leitura analítica das principais publicações dedicadas aos filmes do cineasta em língua portuguesa, assim como ao levantamento exploratório de publicações em outros idiomas. De modo análogo à filmografia comentada, será elaborada uma bibliografia comentada, composta por lista de livros e artigos sobre o cinema de Jia Zhangke, acompanhada de compilação de informações técnicas sobre cada publicação, assim como de comentários curtos sobre cada texto individual.
Memórias da escravidão e resistência no cinema e em outros meios: abordagens africanas e afrodiaspóricas (Graduação – PIBIC UFBA 2019-2020)
Como desdobramento e aprofundamento de um programa de pesquisa mais amplo sobre imagem e direitos humanos, este projeto pretende analisar as representações e abordagens da escravidão e da resistência à escravidão, no cinema e em outros meios, a partir dos movimentos de descolonização iniciados na segunda metade do século XX, com base no estudo comparativo de produções cinematográficas e artísticas africanas e afrodiaspóricas, diferenciando seus modos de relação com o arquivo histórico da escravidão atlântica e com suas lacunas. Desde os movimentos de descolonização e de articulação política e estética terceiromundista que se consolidaram nas décadas de 1960 e 1970, parece estar em andamento uma intensificação do trabalho de memória em torno da escravidão e, de modo indissociável, da resistência em suas múltiplas modalidades. Reconstituir a história a contrapelo, no presente, implica estabelecer relações variáveis de reivindicação e de denegação das heranças políticas e estéticas das propostas de descolonização e dos discursos terceiromundistas da década de 1970, sob o impacto da história posterior de reconfigurações da geopolítica internacional. É fundamental questionar os modos como se pode assumir ou recusar tais heranças. Ao mesmo tempo, é preciso reconhecer que toda abordagem da experiência histórica da escravidão decorre de uma relação com o arquivo da escravidão atlântica, com sua violência fundante e com as lacunas que o atravessam. Considerando as relações que diferentes representações e abordagens da escravidão, no cinema e em outros meios, estabelecem com o arquivo da escravidão e com suas lacunas, tratase agora de pensar quais são as modalidades de apropriação, recusa e ressignificação do arquivo da escravidão, assim como as formas de reivindicação da invenção de novas imagens.
Plano de trabalho 1 – Memórias da escravidão e resistência no cinema e em outros meios: estudo analítico no contexto do cinema brasileiro contemporâneo
Desenvolvido por Marina Lordelo Carneiro entre agosto de 2019 e julho de 2020, com bolsa da FAPESB.
Este plano de trabalho aborda as representações e abordagens da escravidão e da resistência à escravidão, no cinema e em outros meios, no contexto do cinema brasileiro contemporâneo e de sua época (desde 1990, com ênfase nos desdobramentos mais recentes, após 2010), com base no estudo analítico e comparativo de produções cinematográficas e artísticas do período, identificando seus modos de relação com o arquivo histórico da escravidão atlântica e com suas lacunas. Considerando as relações variáveis com o arquivo da escravidão e com suas lacunas, tratase de pensar quais são as modalidades de apropriação, recusa e ressignificação do arquivo da escravidão, assim como as formas de reivindicação da invenção de novas imagens, que estão em jogo em um ou mais filmes ou obras do período.
Plano de trabalho 2 – Memórias da escravidão e resistência no cinema e em outros meios: estudo analítico no contexto dos cinemas africanos contemporâneos
Plano de trabalho não desenvolvido.
Este plano de trabalho aborda as representações e abordagens da escravidão e da resistência à escravidão, no cinema e em outros meios, nos contextos diversos que podem ser reunidos sob a rubrica dos cinemas africanos contemporâneos e de sua época (desde a década de 1980), com base no estudo analítico e comparativo de produções cinematográficas e artísticas do período, identificando seus modos de relação com o arquivo histórico da escravidão atlântica e com suas lacunas. Considerando as relações variáveis com o arquivo da escravidão e com suas lacunas, tratase de pensar quais são as modalidades de apropriação, recusa e ressignificação do arquivo da escravidão, assim como as formas de reivindicação da invenção de novas imagens, que estão em jogo em um ou mais filmes ou obras do período.
Plano de trabalho 3 – Memórias da escravidão e resistência no cinema e em outros meios: estudo analítico no contexto do cinema brasileiro moderno
Desenvolvido por Jeferson Ferreira entre agosto de 2019 e julho de 2020, de forma voluntária.
Este plano de trabalho aborda as representações e abordagens da escravidão e da resistência à escravidão, no cinema e em outros meios, no contexto do cinema brasileiro moderno e de sua época (décadas de 1950-80), com base no estudo analítico e comparativo de produções cinematográficas e artísticas do período, identificando seus modos de relação com o arquivo histórico da escravidão atlântica e com suas lacunas. Considerando as relações variáveis com o arquivo da escravidão e com suas lacunas, tratase de pensar quais são as modalidades de apropriação, recusa e ressignificação do arquivo da escravidão, assim como as formas de reivindicação da invenção de novas imagens, que estão em jogo em um ou mais filmes ou obras do período.
Plano de trabalho 4 – Memórias da escravidão e resistência no cinema e em outros meios: estudo analítico no contexto dos cinemas africanos modernos
Desenvolvido por Roberta Mutte entre agosto de 2019 e julho de 2020, com bolsa do CNPq.
Este plano de trabalho aborda as representações e abordagens da escravidão e da resistência à escravidão, no cinema e em outros meios, nos contextos diversos que podem ser reunidos sob a rubrica dos cinemas africanos modernos e de sua época (décadas de 1950 a 1970, em meio ao processo de descolonização), com base no estudo analítico e comparativo de produções cinematográficas e artísticas do período, identificando seus modos de relação com o arquivo histórico da escravidão atlântica e com suas lacunas. Considerando as relações variáveis com o arquivo da escravidão e com suas lacunas, tratase de pensar quais são as modalidades de apropriação, recusa e ressignificação do arquivo da escravidão, assim como as formas de reivindicação da invenção de novas imagens, que estão em jogo em um ou mais filmes ou obras do período.
Memórias da escravidão e resistência no cinema e em outros meios: abordagens africanas e afrodiaspóricas (Graduação – PIBIC UFBA 2020-2021)
Este projeto propõe a continuidade e a atualização da pesquisa que vem sendo feita desde o PIBIC 2019 sobre as representações e abordagens da escravidão e da resistência à escravidão, no cinema e em outros meios, a partir dos movimentos de descolonização iniciados na segunda metade do século XX, com base no estudo comparativo de produções cinematográficas e artísticas africanas e afrodiaspóricas, diferenciando seus modos de relação com o arquivo histórico da escravidão atlântica e com suas lacunas. Considerando a intensificação do trabalho de memória em torno da escravidão que tem ocorrido desde os movimentos de descolonização que se consolidaram nas décadas de 1960 e 1970, e reconhecendo a atual reconfiguração dos campos de disputa em torno das heranças da experiência colonial e da descolonização como problema político, este projeto questiona os modos como se pode assumir ou recusar tais heranças. Considerando as relações que diferentes representações e abordagens da escravidão estabelecem com o arquivo da escravidão e suas lacunas, trata-se de pensar quais são as modalidades de apropriação, recusa e ressignificação do arquivo da escravidão, assim como as formas de reivindicação da invenção de novas imagens. Para isso, confere-se maior ênfase à comparação entre perspectivas africanas e afrodiaspóricas e à exploração de outros meios artísticos e (audio)visuais, complementando os estudos em andamento sobre cinema brasileiro moderno e contemporâneo e sobre cinemas africanos modernos com o estudo dos cinemas africanos contemporâneos e delimitando marcos fundamentais para estudos comparativos que ultrapassem o campo do cinema e do audiovisual, abrangendo arte e cultura visual em sentido amplo e aproximando-se, assim, de pintura, fotografia e outras formas imagéticas, para tornar possível a interrogação de imagens recorrentes, como as dos navios negreiros, no trabalho de memória e de imaginação em torno da experiência histórica da escravidão.
Plano de trabalho 1 – Memórias da escravidão e resistência no cinema e em outros meios: estudo analítico no contexto dos cinemas africanos contemporâneos
Desenvolvido por Chris Mariani entre setembro de 2020 e agosto de 2021, com bolsa do CNPq.
Este plano de trabalho aborda as representações e abordagens da escravidão e da resistência à escravidão, no cinema e em outros meios, nos contextos diversos que podem ser reunidos sob a rubrica dos cinemas africanos contemporâneos e de sua época (desde a passagem da década de 1970 para a década de 1980), com base no estudo analítico e comparativo de produções cinematográficas e artísticas desse e de outros períodos, identificando seus modos de relação com o arquivo histórico da escravidão atlântica e com suas lacunas. Para isso, propõe-se o estudo aprofundado da obra de Achille Mbembe, de modo a contribuir para uma compreensão crítica do racismo, da experiência colonial, da descolonização e da globalização e da mundialização, entendidos como coordenadas para compreender os cinemas africanos contemporâneos. Considerando as relações variáveis com o arquivo da escravidão e com suas lacunas, trata-se de pensar quais são as modalidades de apropriação, recusa e ressignificação do arquivo da escravidão, assim como as formas de reivindicação da invenção de novas imagens, que estão em jogo em um ou mais filmes ou obras do período.
Plano de trabalho 2 – Memórias da escravidão e resistência no cinema e em outros meios: estudos comparativos em arte e cultura visual
Desenvolvido por Monique Feitosa entre setembro de 2020 e fevereiro de 2021, de forma voluntária, tendo sido interrompido por iniciativa da estudante a partir de março de 2021, após a apresentação do relatório parcial de atividades.
Este plano de trabalho aborda as representações e abordagens da escravidão e da resistência à escravidão, tal como tem sido construídas e desconstruídas, montadas, desmontadas e remontadas, em campos diversos da arte e da cultura visual. Por meio de pesquisa bibliográfica sobre referências teóricas e/ou artísticas dos campos da pintura, da fotografia e/ou da arte contemporânea, propõe-se o estudo de catálogos de exposições recentes, como Histórias Afro-Atlânticas (2018) e Mãe Preta (2016), para buscar compreender como se confrontam e se negociam, atualmente, perspectivas sobre a história da arte e da imagem. Considerando que a diferenciação entre essas perspectivas está relacionada à identificação de distintos modos de relação com o arquivo histórico da escravidão atlântica e com suas lacunas, trata-se de pensar quais são as modalidades de apropriação, recusa e ressignificação do arquivo da escravidão, assim como as formas de reivindicação da invenção de novas imagens, que estão em jogo em obras artísticas de diferentes períodos, tal como são convocadas dentro de propostas curatoriais contemporâneas.
Plano de trabalho 3 – Memórias da escravidão e resistência no cinema e em outros meios: estudo comparativo em torno de imagens dos navios negreiros
Desenvolvido por Alexandra Helena entre setembro de 2020 e agosto de 2021, com bolsa do CNPq.
Este plano de trabalho aborda as representações e abordagens da escravidão e da resistência à escravidão, considerando o modo como têm sido construídas e desconstruídas, montadas, desmontadas e remontadas, em campos diversos da arte e da cultura visual, para interrogar especificamente as imagens dos navios negreiros. Por meio de pesquisa bibliográfica sobre sobre a história e as imagens dos navios negreiros, com destaque para o livro O navio negreiro: uma história humana, de Marcus Rediker (2011), propõe-se o estudo de obras cinematográficas e artísticas diversas que envolvem a representação ou a referência a alguma imagem de navio negreiro. Considerando que a figura do navio negreiro emerge como motivo recorrente no trabalho de memória e imaginação em torno da escravidão, e a criação de novas imagens, a retomada e a reinvenção das imagens sobreviventes e das imagens que faltam da chamada ?passagem do meio? podem ser compreendidas por meio da exploração de uma constelação de perspectivas, elaboradas por diferentes obras, trata-se de pensar quais são as modalidades de apropriação, recusa e ressignificação do arquivo da escravidão, assim como as formas de reivindicação da invenção de novas imagens, que estão em jogo em obras artísticas de diferentes períodos que confrontam a experiência histórica e a simbologia do navio negreiro.
Memórias da escravidão e resistência no cinema e em outros meios: abordagens africanas e afrodiaspóricas (Graduação – Programa de Bolsas Milton Santos UFBA 2020-2021)
Este projeto propõe a continuidade e a atualização da pesquisa que vem sendo feita desde o PIBIC 2019 sobre as representações e abordagens da escravidão e da resistência à escravidão, no cinema e em outros meios, a partir dos movimentos de descolonização iniciados na segunda metade do século XX, com base no estudo comparativo de produções cinematográficas e artísticas africanas e afrodiaspóricas, diferenciando seus modos de relação com o arquivo histórico da escravidão atlântica e com suas lacunas. Considerando a intensificação do trabalho de memória em torno da escravidão que tem ocorrido desde os movimentos de descolonização que se consolidaram nas décadas de 1960 e 1970, e reconhecendo a atual reconfiguração dos campos de disputa em torno das heranças da experiência colonial e da descolonização como problema político, este projeto questiona os modos como se pode assumir ou recusar tais heranças. Uma vez que diferentes representações e abordagens da escravidão estabelecem relações variáveis com o arquivo da escravidão e suas lacunas, trata-se de pensar quais são as modalidades de apropriação, recusa e ressignificação do arquivo da escravidão, assim como as formas de reivindicação da invenção de novas imagens. Para isso, confere-se maior ênfase à comparação entre perspectivas africanas e afrodiaspóricas e à exploração de outros meios artísticos e (audio)visuais, complementando os estudos em andamento sobre cinema brasileiro moderno e contemporâneo e sobre cinemas africanos modernos com o estudo dos cinemas africanos contemporâneos e delimitando marcos fundamentais para estudos comparativos que ultrapassem o campo do cinema e do audiovisual, abrangendo arte e cultura visual em sentido amplo e aproximando-se, assim, de pintura, fotografia e outras formas imagéticas, assim como da questão dos espaços museológicos e expositivos em que são inseridas e podem ser ressignificadas.
Plano de trabalho – Plataformas de exibição, dispositivos museológicos, espaços de memória: o Centro Cultural Casa de Angola na Bahia, em Salvador
Proposto e desenvolvido por Rogério Wesley Reis Felix Santos entre setembro de 2020 e agosto de 2021, com bolsa de iniciação científica do Programa de Bolsas Milton Santos.
Considerando a questão geral do projeto de pesquisa em que se insere, relativo às abordagens africanas e afrodiaspóricas das memórias da escravidão e resistência no cinema e em outros meios, tal como se relacionam com os temas da globalização, do espaço e do território, seja em sentido geral, seja no que concerne às suas modalidades singulares, ativadas por diferentes obras cinematográficas, artísticas e audiovisuais, em múltiplos contextos de circulação, exposição e recepção, este plano de trabalho destina-se a um estudo aprofundado do contexto do Centro Cultural Casa de Angola na Bahia, localizado no Centro Histórico de Salvador, considerando os núcleos da exposição de longa duração da instituição, que preserva e difunde, assim como a Casa do Benin e o Museu Afro-Brasileiro/UFBA, entre outras instituições, elementos de culturas africanas. Por meio de pesquisa bibliográfica e iconográfica, assim como de uma abordagem que temos denominado arqueologia do sensível, este plano de trabalho pretende pensar o espaço em que se situa a Casa de Angola na Bahia, na cidade de Salvador, e as relações espaciais que engendra entre contextos brasileiros e africanos, considerando o que Milton Santos denomina ?inseparabilidade dos objetos e das ações?. Trata-se, igualmente, de identificar e analisar plataformas de exibição e dispositivos museológicos que a Casa de Angola na Bahia atualiza, particularmente em suas exposições de longa duração, discutindo os modos como esse espaço singular participa do que Santos define como ?meio técnico-científico-informacional?, como espaço de memória. Finalmente, trata-se ainda de interrogar os modos como a situação espacial e as configurações museológicas da Casa de Angola na Bahia tornam possível elaborar perspectivas críticas sobre histórias e memórias, em relação e além do trauma da escravidão, no contexto de um processo de globalização que se acentua de forma cada vez mais perversa, mas que é preciso considerar também como possibilidade.
Catálogo: imagens de navios negreiros
Um dos resultados da pesquisa realizada por Alexandra Helena Batista da Silva (graduanda em História-UFBA), como parte do plano de trabalho “Memórias da escravidão e resistência no cinema e em outros meios: estudo comparativo em torno de imagens dos navios negreiros” é um catálogo de obras artísticas relacionadas à imaginação do navio negreiro, considerando dois eixos diaspóricos de forma comparativa: o dos EUA e o do Brasil.