Estas anotações destinam-se, sobretudo, a quem não viu o filme. Pretendo publicar ainda um texto crítico-analítico sobre ele.
Como é possível representar os vencidos da história? Como é possível imaginar aqueles que se foram, que desapareceram sem contar sua história, senão pelo testemunho dos vencedores? De que formas o cinema é capaz de registrar, narrar, representar e reinventar, ao mesmo tempo, os sentidos da história e dos conflitos e tensões que a constituem?
Todo filme é uma forma de arquivo, em que traços de alguma história encontram abrigo, enquanto outros são excluídos. Nesse sentido, todo filme dá abrigo a traços em desaparição. No arquivo de Los Angeles Red Squad, a desaparição é, justamente, o que precisa ser registrado. O filme deve ser compreendido, nesse sentido, como parte de uma tentativa de dar abrigo a traços da desaparição.
Se Travis Wilkerson escreve alguma história, efetivamente, em Los Angeles Red Squad, é uma história de fantasmas. Em seus nomes, o diretor procura registrar o passado e seus espectros. Uma história que não pertence mais ao presente, mas que continua a assombrá-lo e a reivindicar seu direito de presença, eis o que se escreve nos 55 minutos do documentário.
Seus temas são a derrocada da esquerda nos Estados Unidos e a repressão policial ao dissenso comunista em Los Angeles, nos anos 1920 e 1930, especificamente por meio da atuação do Red Squad comandado por William “Red” Hynes e de suas atividades de infiltração e intimidação dentro de sindicatos e movimentos sociais.
A abordagem do filme e suas formas expressivas articulam um recurso estilístico aparentemente familiar no campo do documentário – a voz over – a usos criativos das imagens e do som, cuja disjunção suplementa, desloca e questiona, frequentemente, os sentidos da narrativa, que podem eventualmente parecer óbvios.
Não há nada óbvio, de fato, no que ocorre em Los Angeles Red Squad, embora sua narrativa de repressão policial ao dissenso político permaneça muito familiar e pareça insuportavelmente óbvia para nossos olhos, cada vez mais habitados pela experiência do medo e da crise.