Este texto destina-se, sobretudo, a quem não viu o filme mencionado. Pretendo publicar uma crítica analítica do mesmo.
Broken Tongue, de Mónica Savirón, é um filme experimental baseado no poema “Afrika”, lido por Tracie Morris. Ao lado (ou abaixo, dependendo do seu dispositivo de acesso), você pode ouvir sua voz em uma performance do poema. No I Fronteira, Broken Tongue participa da Mostra Competitiva Internacional de curtas.
Cinema, poesia, performance e arte contemporânea se entrelaçam, numa trama bastante densa, durante os cerca de 3 minutos do filme, cuja densidade é amplificada pela simplicidade do estilo: ao som da voz de Morris, uma montagem ritmada encadeia fragmentos.
As fronteiras institucionais e estéticas que separam cinema e arte se desfazem no jogo entre a sequência descontínua de imagens de jornal e a poesia conceitual que soa sobre elas – “It all started when we were brought here as slaves from Africa.” (“Tudo começou quando nós fomos trazidos para cá como escravos vindos da África.”)
Na descontinuidade da montagem, Broken Tongue encontra o movimento que anima suas imagens. A fixidez das páginas jornalísticas se deixa habitar pela polifonia da voz de Tracie Morris, que se torna eco. O ritmo da voz se aproxima e se afasta, alternadamente, do ritmo da montagem, conferindo à frase do poema uma pulsação cardíaca irregular.
O fundamento conceitual da poesia de Tracie Morris associa Broken Tongue à arte conceitual, enquanto sua singular ressonância deve ser reenviada ao campo da performance.
Na encruzilhada entre a interrogação conceitual do movimento diaspórico como origem e a fabricação de um destino comum por meio da performance, Broken Tongue dá ao cinema um intenso sentido político.