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Contra a captura proprietária do conhecimento

O mercado editorial é infernal, e um dos principais culpados é a captura proprietária dos direitos autorais, que fica evidente quando não basta a autorização de um autor ou uma autora para que se traduza um de seus textos. É surreal quando nem o próprio autor baste para autorizar algo com seu texto, uma republicação ou tradução, por exemplo.

Arrisco dizer até que tenho uma solução. Sim, bem arriscado quando a gente acha que tem alguma solução. Mas me acompanhem: a solução é o comum, algum jeito de destinar todo texto à esfera do uso comum.

Toda vez que me deparo com textos ousados, cheios de argumentos e propostas radicais, de pensadores e pensadoras que questionam sistemas de opressão e exploração, mas publicados por editoras e veículos que são verdadeiras corporações com práticas predatórias no mercado editorial, me afasto, desisto.

Às vezes conseguimos nos desviar da captura proprietária, driblar suas artimanhas, para acessar conhecimento que deveria estar desde o início disponível. Mas mesmo quando consigo acessar algum texto por algum subterfúgio, demoro pra ler, me inquieto e me preocupo. O que penso no final não muda muito, e num arroubo hoje eu tentei registrar essas ideias.

1. Não é trivial – o que quer dizer que: é crucial – a defesa do acesso livre e aberto ao conhecimento produzido, em toda a parte em que é produzido, sem limites.

2. Não é trivial – o que quer dizer que: é crucial – que instituições universitárias, centros de pesquisa e afins deixem de assinar editoras e periódicos fechados na captura proprietária do conhecimento.

3. Não é trivial – o que quer dizer que: é crucial – que um autor ou uma autora se recuse a publicar o que quer que seja onde não se adota políticas radicais de abertura.

4. Não é trivial – o que quer dizer que: é crucial – também recusar a substituição da captura proprietária dos direitos autorais por editoras/veículos predatórios pela captura datificada dos direitos autorais por corporações do capitalismo algorítmico como Academia-ponto-edu, Research–Gate e similares. Parem de usar essas merdas.

5. O que defendo é o que talvez se possa caracterizar como a adoção generalizada de um princípio antropofágico (que é talvez um anti-princípio, já que não erige nenhum domínio e perturba toda propriedade): “Direito de ser traduzido, reproduzido e deformado em todas as línguas”.

6. Salve Oswald de Andrade: só me interessa o que não é meu. Salve Lacan: amar é dar o que não se tem. (Produzir conhecimento é um ato de amor nesse sentido preciso.)

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