A música e a pele: Sigur Rós, Dauðalogn (Valtari; 2012)

Quando uma música é capaz de te erguer, de te fazer flutuar, de te fazer voar, como se fosse possível pertencer a ela, morar em suas paisagens, habitar cuidadosamente sua insistente textura de seda, embora aérea.

Quando uma música consegue atravessar sua pele e viajar no vazio sem fundo que ela esconde, porque o mais fundo é a própria pele, e nada há além dos corpos que talvez se entendam fugazmente (nenhuma alma jamais se entende, Manuel, você tem razão, é preciso esquecer a alma para amar).

Quando uma música revolve a memória de outras músicas e ao mesmo tempo abre um clarão imemorial nos olhos, que escorrem seu pequeno sal.

Quando uma música te deixa imóvel, e essa imobilidade é dança.

Nesses momentos, sorriso.

  • Marcelo R. S. Ribeiro

    Entropólogo da disseminação de mundos e professor de cinema‑delírio na Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Autor do livro Do inimaginável (Editora UFG, 2019), coordena o grupo (an)arqueologias do sensível, desenvolve e orienta pesquisas sobre imagem, história e direitos humanos, cinemas africanos, história do cinema, arquivos e descolonização.

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