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Qual história das teorias do cinema?

Há várias possibilidades de abordagem das teorias do cinema (e do audiovisual), e muitas delas supõem algum tipo de contextualização histórica do pensamento dos diferentes autores (e autoras, ainda que a presença das teóricas tenha permanecido mais reduzida até recentemente). A mera identificação de nomes e períodos é provavelmente insuficiente, se não problemática em seus pressupostos, entre os quais eu destacaria um certo individualismo metodológico e a suposição de períodos fechados (ignorando a necessidade de interrogar as sempre arriscadas decisões envolvidas na periodização). Seja como for, com todos esses riscos em mente, decidi iniciar a construção de um quadro sintético para as minhas aulas. É o que você pode ver abaixo, ou acessar diretamente aqui.

O ponto de partida da periodização proposta é o livro de Robert Stam publicado no Brasil em 2003, Introdução à teoria do cinema. É uma obra de referência, e sua leitura é imprescindível para quem quer que se interesse na compreensão das diferentes possibilidades de pensamento teórico sobre o cinema. A ideia é ir além de Stam, sem dúvida, mas o quadro está apenas esboçado, e as informações nele contidas devem ser objeto de complementos e revisões. Se você acha que pode colaborar, entre em contato. Se você está matriculado em alguma das minhas turmas de Teorias do cinema, parte da atividade de avaliação consiste em contribuir de alguma forma para o aprimoramento desse quadro sintético (mais informações sobre isso estão no programa da disciplina).

Nenhum esforço desse tipo deve ser considerado definitivo, nem pode pretender ser exaustivo. Ainda que reconheça esses e outros limites da proposta, estou seguro de que pode ser bastante proveitoso se aproximar das diversas teorias do cinema por meio da visualização direta das pessoas que escrevem sobre cinema. Isso evidencia, entre outras coisas, a predominância de figuras masculinas e brancas. Me parece que isso se deve a razões de duas ordens diferentes. Por um lado, pode ser alegado que a maioria masculina e branca no pensamento sobre o cinema decorre de condições históricas (que podem ser interrogadas, mas precisam ser reconhecidas); por outro, é preciso reconhecer que é também decorrente de um modo de reconstituir a história, privilegiando teóricos brancos (e isso significa que haveria outras histórias, relacionadas a teóricas brancas, por exemplo, que precisam ser reconhecidas e ativamente retomadas). O livro de Stam procura confrontar as duas ordens de razões e, de fato, destaca figuras como Germaine Dulac, que está no quadro sintético. Fico me perguntando se haveria outras formas de deslocar a predominância de teóricos brancos e de expandir o conjunto de nomes. É um desafio que atravessará o esforço de construção do quadro.

Afinal, se vamos abordar as teorias do cinema (e do audiovisual) em perspectiva histórica, talvez seja fundamental pensar, de forma dupla sobre a questão com que intitulei este post. Perguntar Qual história das teorias do cinema? é perguntar, ao mesmo tempo, como se deve fazer em relação a qualquer abordagem da história, em geral, qual história reconstituímos, no passado, e qual história prolongamos, no presente, em direção ao futuro.