O primeiro título apresentado no livro 1001 filmes para ver antes de morrer é Viagem à Lua (Le Voyage dans la Lune, 1902), de Georges Méliès. A obra está em domínio público e pode ser facilmente encontrada, em diversas versões.
Restauração PB (720p)
Abaixo, você pode assistir uma versão em preto e branco, restaurada, que está disponível no YouTube. Não há necessidade de legenda, pois não há comentários em voz over (como nessa versão, que recomendo conhecer justamente por causa das informações adicionais que oferece), nem letreiros.
Escrever sobre Viagem à Lua é desafiador, porque é difícil conter um filme tão confusamente belo e tão caoticamente criativo em palavras. Seja como for, talvez o mais impressionante nesse filme de Méliès, especificamente nessa sua versão em preto e branco, seja o fato de que suas imagens são coloridas, mesmo em preto e branco.
Explico meu jogo de palavras: o filme solicita a imaginação espectatorial de forma muito intensa, tornando impossível permanecer alheio ao que suas imagens mostram e ao que sugerem, ao que insinuam, ao que destinam ao espectador, como uma promessa.
A promessa de Viagem à Lua não pode, contudo, se realizar. Toda a história do cinema parece ter conduzido a sua sustentação, como promessa, e impedido sua realização. Cabe ao cinema, nesse sentido, explorar o território de fantasia em que a promessa de Méliès, e de tantos outros, permanece se desdobrando em muitas outras formas e figuras, interminável.
E essa promessa interminável parece indicar que o cinema resguarda uma potência imaginativa que é, efetivamente, sem fim – sem término e sem finalidade. A imagem de cinema é uma imagem assombrada, como a imagem fotográfica, e seus fantasmas pulsam com a luz de vagalumes.